O marxismo de Vicente Lombardo Toledano

Professor, advogado, sindicalista, político e jornalista, foi fundador da Confederação de Trabalhadores da América Latina e do Partido Popular Socialista mexicano, com destacada atuação nos debates públicos do período pós-revolucionário Por Pedro Rocha Curado e Athos Vieira * LOMBARDO TOLEDANO, Vicente (mexicano; Teziutlán/México, 1894 – Cidade do México, 1968) 1 – Vida e práxis política Vicente Lombardo Toledano nasceu no estado de Puebla, no seio de uma família de comerciantes de origem italiana. Seu pai, Vicente Lombardo Carpio, possuía propriedades e investimentos no setor de mineração, além de ter se envolvido com a política, sendo eleito prefeito de Teziutlán, em 1905. A infância e a juventude de Lombardo Toledano se passaram entre a última década do governo do general Porfirio Díaz (1876-1911) e as repercussões da Revolução Mexicana de 1910. O turbulento contexto social de seus anos de formação contribuiu para edificar nele o interesse pela política e história mexicana. Lombardo teve o privilégio de frequentar boas escolas; após realizar os primeiros anos de estudos no Liceo Teziuteco, foi enviado, em 1909, à Cidade do México para se matricular na Escuela Comercial Francesa. No ano seguinte, foi aprovado na prestigiosa Escuela Nacional Preparatoria, onde terminaria a formação escolar. Em 1914, ingressou na Faculdade de Direito da Universidad Nacional de México (UNM) – que em 1929 viria a ser denominada Universidad Nacional Autónoma de México – e logo direcionou seus estudos para temas sociais. Fundou, com seis companheiros, a Sociedad de Conferencias y Conciertos (1916), inspirados na experiência do Ateneo de la Juventud Mexicana – grupo que reuniu intelectuais críticos ao pensamento positivista dominante durante a época de Porfirio Díaz. O objetivo desta sociedade era promover uma cultura humanista entre estudantes e trabalhadores através de leituras públicas sobre o socialismo e debates sobre justiça, democracia, educação e sindicalismo. Os tempos eram favoráveis às pautas progressistas; as diretrizes sociais expressas na nova Constituição de 1917 – a primeira a conferir aos direitos trabalhistas um tratamento universal, além de garantir liberdades políticas e individuais de expressão, culto e associação – indicavam um país em rápida transformação. No ano de 1917, Lombardo assumiu o cargo de secretário da Universidad Popular Mexicana, posto que lhe permitiu atuar mais próximo ao movimento sindical. Tal relação nortearia sua atuação como político e educador por toda a vida. Dois anos depois, ele se licenciou em Direito. Em 1921, casou-se com Rosa María Otero Gama – com quem teve três filhas. Nesta década, passou a dividir sua atuação entre a política, o sindicalismo e a docência – atividades que desde então desempenharia sempre. Foi também nessa época que aprofundou seus estudos acerca do marxismo, passando a adotar o materialismo histórico como chave de leitura e interpretação das sociedades humanas, em particular a mexicana. No campo sindical, em 1921, associou-se à Confederación Regional Obrera Mexicana (CROM) – então a maior organização sindical do país –, logo se tornando membro do Comitê Central deste sindicato (entre 1923 e 1932); posteriormente, porém, rompeu tal ligação por divergências internas com a corrente colaboracionista pró-governo, e sua atuação sindicalista se estenderia por outras organizações. Já a carreira política de Lombardo Toledano teve início ao assumir o posto de governador interino de Puebla, diante de um contexto de forte crise institucional (entre 1923 e 1924). Em seguida, elegeu-se duas vezes para o cargo de deputado do Congresso da União (períodos de 1924-1925 e de 1926-1928), ambos pelo Partido Laborista Mexicano. Seus mandatos ficaram marcados por sua participação nas discussões pela regulação dos direitos trabalhistas, o que culminou com a promulgação da Ley Federal del Trabajo (de 1931) – voltada para o aprofundamento dos aspectos individuais, coletivos, administrativos e processuais do trabalho. Em 1927, tornou-se secretário-geral da Confederación Mexicana de Maestros; em 1932, da Federación de los Sindicatos Obreros del Distrito Federal (FSODF). A partir 1933 (até 1946) dirigiu a Revista Futuro, publicação que reuniu a intelectualidade revolucionária da época, discutindo temas-chave como a realidade mexicana, o movimento operário internacional e a II Guerra. No campo educacional, após acumular experiência com atividades docentes em diferentes institutos nos anos anteriores, Lombardo ajudou a fundar duas universidades: a Universidad Gabino Barreda (que só durou de 1934 a 1936); e a Universidad Obrera de México, fundada em 1936 (em atividade até hoje). Nesta última, lecionou disciplinas como “História das Doutrinas Filosóficas”, “Materialismo Dialético”, “Economia Política”, “Direito Trabalhista”, “História do México” e “História do Imperialismo”, entre outras. Assumiu o posto de reitor nas duas instituições (naquela, entre 1934 e 1936, nesta, entre 1937 e 1968). Em 1935, viajou para a União Soviética, interessado em conhecer de perto o desenvolvimento político e social do país; visitou várias cidades (como Carcóvia, Bacu, Tiblíssi e Sótchi) e, em Moscou, participou do VII Congresso da Internacional Comunista (IC). Este evento ficou marcado pela diretriz, feita aos Partidos Comunistas do mundo, de buscarem a construção de “frentes amplas” multiclassistas, como forma de conter o avanço dos partidos de extrema-direita em seus países; as deliberações da IC tiveram grande influência no desenvolvimento das estratégias políticas defendidas pelo marxista. Entre 1936 e 1940, Lombardo foi secretário-geral da Confederación de Trabajadores de México (CTM) – criada em 1936 para substituir a CROM. Durante este período, defendeu o apoio da organização ao governo do general Lázaro Cárdenas (1934-1940), pois o considerava “progressista”, tanto por implementar um programa de reforma agrária como por colaborar para a união dos mexicanos através da propagação de noções de equidade e do fortalecimento de uma consciência de “nação” – dois legados da Revolução Mexicana. A boa relação que manteve com o governo Cárdenas lhe permitiu avançar com novos projetos nos campos sindical e educacional. Assim, em 1938, ajudou a criar a Confederação de Trabalhadores da América Latina (CTAL), a maior organização trabalhista do continente (que em seu auge reuniu centrais sindicais de 14 países americanos) – da qual seria o presidente desde sua fundação até seu encerramento, em 1963. Entre 1945 e 1964, exerceu também o cargo de vice-presidente da Federação Sindical Mundial (FSM) – com sede em Paris, da qual passou aContinuar lendo “O marxismo de Vicente Lombardo Toledano”